[LP] “Caminho de pedras” para refletir

Aos alunos de Língua Portuguesa: eis aqui um excelente texto do amigo Jope Leão Lobo que vale a pena sua leitura e reflexão.

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Que Bilac me perdoe, todavia, quero o turbilhão da rua. Observo as ruas, percebo os movimentos, noto os acontecimentos. Escrevo como um deambulante, capto sensações avulsas e lapido-as até que tenham forma. Desculpem-me, caros leitores, por, várias vezes, tal forma não ser agradável. Além disso, não posso deixar de pedir perdão por minha lente estar, inúmeras vezes, quebrada. Meu texto possui um conteúdo torto, afinal minha escrita é a multidão, o barulho, o turbilhão.


Que continue a me perdoar, contudo, não sou um ourives. Não moldo palavras nem as faço joias. Posso dizer que as escolho num irrequieto, angustiado, dolorido, labutado e raciocinado dedilhar ou mover de mãos. Minhas frases, meus caros, são o caminho o qual desejo que percorram; as pedras, elas são as palavras. As palavras no meio do caminho; não as deixo para atordoá-lo, atormentá-lo – talvez um pouco – porém, deixo-as para formar uma construção sólida para que vossa pessoa possa caminhar meu texto e, quando necessário, para que tropece em suas pedras. Em suma, para que declare: “Tinha uma pedra no meio do caminho” ou “No meio do caminho tinha uma pedra”; qual das frases ficará em suas retinas fatigadas não serei eu a escolher, caro leitor. Assim sendo, meu texto o faz escolher um caminho e uma pedra, ambos a atormentá-lo. Dessa forma, não sou um ourives, sou um construtor, um daqueles torto, que nascem gauche na vida.


Assim sendo, leitor, eu teria parado de ler na primeira linha, afinal, tudo o que deve saber é: que o parnasiano me perdoe. Entretanto, que autor não quer leitores? Eu seria um desses, provavelmente, por preferir um lirismo louco, conturbado, cheio de adversativas e de concessivas. Conquanto essa seja minha produção, racionalidade precede minhas construções, pedra por pedra cada uma num lugar exato, numa ordem calculada, numa interpretação ambígua. Dito isso, como um deambulante, estou a observar qual será a pedra no seu caminho.

Autor: Jope Leão Lobo.

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